Monólogo Interior

MONÓLOGO INTERIOR

Parte 1

O silêncio intenso é um convite

Para que eu me analise sem medos

E arranque de minh’alma segredos

Que se envergonham dos meus palpites.

Não quero luzes... Meu íntimo é escuridão

E na penumbra de mim mesmo dialogo

Com minha consciência que tece in loco

Fantasias que são utopias de solidão.

Se o pranto que me invade é hipocrisia,

Meu âmago haverá de torná-lo verdades

E inspirar-me a combater as adversidades

Que me fazem pintar o ego de alegorias.

Eu sou vida, portanto, pulso um amor

Que vive camuflado por meus pensamentos

E deteriorado por lúgubres sentimentos

Que roubam de mim a energia do ardor...

Na avareza da paixão sinto-me egoísta

E delinquente do que poderia ser meu destino,

Mas uma força estranha que vem do menino

Me consome o húmus da razão otimista...

Parte 2

Há um fogo em mim sem tempero

Que apenas me bronzeia as ilusões,

Não há labaredas que me tostem as emoções

Nem o calor que possa assanhar-me desejos...

Minha vitrine é oca e por pouco se quebra,

Os adereços são miragem de fogo fátuo

Que se esconde e não posso tomar contato,

Pois, percebo que são mosaicos de pedra.

Vistorio no tempo o que foram as horas

E observo que desprezei os focos de alegria,

Tento decifrar se algumas vezes senti nostalgia

Então, aí, revela-se uma existência peremptória...

Os ventos que sopram sobre mim são efêmeros

E quando me rondam furtam-me as lembranças,

Logo me noto sem alqueire e os brinquedos de criança,

Enxergo-os carcomidos sem pedaços, mas inteiros...

Os dias e as noites têm um mesmo fim,

Há flores murchas em pleno auge de primavera,

Vislumbro folhas de outono que cobrem as passarelas

Tão secas quanto o orvalho que existe em mim...

Parte 3

Tenho imensa vontade de sentir saudade,

Contudo não existem recordações, a memória é vazia,

Preciso renascer e sufocar em mim a agonia

Que me obriga a adormecer a sensualidade.

Sou pivete de mim mesmo, um eu vilão

Que me assalta diuturnamente a esperança,

Que me corrói o interior em suas andanças

E me deixa sem partido, a nocaute o coração.

Talvez a sensibilidade ensine-me a sonhar,

Então eu busque banir de mim este Saara,

Encarar o universo com uma nova cara

E sorrir... Porque com o sorriso aprende-se a amar!

Não tenho júbilo... Minha lágrima é o carinho

Com que adoço a possibilidade de sobreviver,

Jogar para o alto a toalha, procurar o prazer

Que ao longo dos anos dormiu sozinho...

Ave! Afinal são sensações de um despertar...

É que só agora o moleque embutido faz bagunça,

Quer gritar e arrancar os dentes da atmosfera dentuça

E nadar... Navegar envolto pelas flores dum profundo mar!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 22/03/2014
Código do texto: T4739969
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