Hoje

Hoje

Ninguém parou o trânsito

Para abraçar outro corpo

E dizer "eu te amo".

Tudo que é amor causável no sangue

Tem razão em algum olhar.

Mas os olhares se desviaram.

Cessou a calmaria.

E agora?!

Quão linda é essa manhã fria,

Mas há algo de inconstante nela -

Talvez uma lembrança fraca,

Talvez uma cabana no esquecimento de alguém,

Talvez um suspiro abafado

Pelo sussurrar das pálpebras marejadas.

Hoje

Ninguém roubou as luzes do semáforo

Para enfeitar o seu jantar romântico,

Nem mesmo arrancou

As faixas de pedestre das ruas

Para cercar a cama sobre a qual

Esquentaria um corpo alheio.

Não. Ninguém quis ouvir

A música que o rádio cantava -

Estavam todos hipnotizados

Pelo perfume da indiferença.

Amar causa canto,

Mas ninguém se declarou no ônibus -

Esse transporte coletivo

Onde todo amor é público

E qualquer sorriso faz a diferença.

Não. Ninguém fez nada demais.

Hoje

Os vossos bolsos passaram

A valer mais que os vossos corações.

Pouco importa o coração -

Esta bolsa de sangue insensível -

Se o bolso está cheio.

Eu quero a bebida mais ardente amanhã

E que ela traga o vermelho das tardes

E a voz perfumada dos rádios novamente -

Arrancando sorrisos desses rostos no ônibus,

Rasgando sutiãs e calcinhas

Nesses quartos mais íntimos e quentes.

21/03/2014

Innocencio do Nascimento e Silva Neto
Enviado por Innocencio do Nascimento e Silva Neto em 21/03/2014
Reeditado em 21/03/2014
Código do texto: T4738032
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