Hoje
Hoje
Ninguém parou o trânsito
Para abraçar outro corpo
E dizer "eu te amo".
Tudo que é amor causável no sangue
Tem razão em algum olhar.
Mas os olhares se desviaram.
Cessou a calmaria.
E agora?!
Quão linda é essa manhã fria,
Mas há algo de inconstante nela -
Talvez uma lembrança fraca,
Talvez uma cabana no esquecimento de alguém,
Talvez um suspiro abafado
Pelo sussurrar das pálpebras marejadas.
Hoje
Ninguém roubou as luzes do semáforo
Para enfeitar o seu jantar romântico,
Nem mesmo arrancou
As faixas de pedestre das ruas
Para cercar a cama sobre a qual
Esquentaria um corpo alheio.
Não. Ninguém quis ouvir
A música que o rádio cantava -
Estavam todos hipnotizados
Pelo perfume da indiferença.
Amar causa canto,
Mas ninguém se declarou no ônibus -
Esse transporte coletivo
Onde todo amor é público
E qualquer sorriso faz a diferença.
Não. Ninguém fez nada demais.
Hoje
Os vossos bolsos passaram
A valer mais que os vossos corações.
Pouco importa o coração -
Esta bolsa de sangue insensível -
Se o bolso está cheio.
Eu quero a bebida mais ardente amanhã
E que ela traga o vermelho das tardes
E a voz perfumada dos rádios novamente -
Arrancando sorrisos desses rostos no ônibus,
Rasgando sutiãs e calcinhas
Nesses quartos mais íntimos e quentes.
21/03/2014