Desapêgo

Quem me dera o passado-de-homem

Desfazer como um laço desatado no corpo

Quem me dera da vida-maligna , fugir desatinado

Nu, sem levar nada que não seja a febre de Amor correspondido

Quem me dera malinar nas gavetas do tempo e jogar fora saudade

Arrumar na mala um tiquinho de não-ter-medo

Ir empurrando a solidão prum canto escuro

Abrir as janelas pro vento desaforado

Não varrer as folhas secas no chão amarelo

Abraçar a luz do sol quando dobra a tardezinha

E ir andando, mesmo sem rumo,

Escrevendo cá uns versos e outros

Nos muros e no coração de toda gente

Que meus olhos cruzarem no caminho...

Quem me dera receber só o bem-querer do abraço quente

E fazer da colcha de retalhos o estender pro sono mansinho

Quem me dera sonhar e fazer do sonho a vida

Que a morte não há de despertar.

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 19/03/2014
Código do texto: T4735451
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