Desapêgo
Quem me dera o passado-de-homem
Desfazer como um laço desatado no corpo
Quem me dera da vida-maligna , fugir desatinado
Nu, sem levar nada que não seja a febre de Amor correspondido
Quem me dera malinar nas gavetas do tempo e jogar fora saudade
Arrumar na mala um tiquinho de não-ter-medo
Ir empurrando a solidão prum canto escuro
Abrir as janelas pro vento desaforado
Não varrer as folhas secas no chão amarelo
Abraçar a luz do sol quando dobra a tardezinha
E ir andando, mesmo sem rumo,
Escrevendo cá uns versos e outros
Nos muros e no coração de toda gente
Que meus olhos cruzarem no caminho...
Quem me dera receber só o bem-querer do abraço quente
E fazer da colcha de retalhos o estender pro sono mansinho
Quem me dera sonhar e fazer do sonho a vida
Que a morte não há de despertar.