O Dia da Banda
Olha lá...
Assentados a frente de suas casas
Famílias inteiras,
Bem vestidas e abastardas de alegrias e cervejas.
Olha lá...
Devidamente acomodados
Prefeito, governador, suas mulheres,
Com tudo que tem direito,
Não vejo bem alocado o povo,
Enquanto a banda passa...
Também pudera.
Alguém tem que estar na rua,
Vestindo a fantasia de palhaço,
Se não estiver servindo de alegoria.
Olha lá...
O Chico vestido de mico;
O Zé vestido de mulher.
O negro vestido de escravo e
Aquela idosa vestida de prostituta...
A moça vestida de qualquer coisa como índia nua,
Deixando todos hipócritas pedindo a censura.
Olhá lá...
Como riem da Maria,
Com tanta bolsa,
Sem educação, saúde com filhos na prisão,
Vestida de fome e anemia.
Aquela outra situação,
Parece hoje em dia,
Policiais assaltando e batendo na população.
Engraçado ainda não se viu,
Na ala dos desesperados os professores.
Acho que esqueceram a escola.
Mas parece que não faz mal, olha lá na esquina...
Meninos e meninas,
Para não fugir do contexto,
Fumam maconha e bebem sem endereços.
Tem até Jesus Cristo como Joaquim,
Ou melhor, dizendo, em tom de chacota,
Uma multidão rezando pro dia ter fim,
Pois ante cristo mesmo, só a falta de respeito e a indignação,
De com toda essa miséria,
Aceitarmos passivamente,
Um carnaval cujo enredo é uma Democracia,
Baseada na mentira,
Que o Estado vem contando para mim e pra você.
Se ainda não basta,
Espera o que a gente fez por merecer...
Num único dia, sair de casa cedo para vender a nossa liberdade,
Nossa esperança e nosso direito de ver no amanhã,
Um futuro descente aos nossos filhos.