BOI ARAÇÁ I

kadore desceu a ladeira

com os braços abertos.

kadore descia a ladeira,

com as asas suspensas

como se quisesse voar.

kadore descia a ladeira,

pisando forte com os pés,

pisando nos cacos de vidro.

kadore comia o vento pelas narinas,

chutava o lixo que cobre o luxo.

kadore andava na frente da lei.

kadore acionava as asas,

como se quisesse furar a justiça,

como se pudesse voar.

kadore descia calado;

sem estar tenso.

apenas os braços abertos,

presos de lado,

e os pés caminhando soltos,

seguindo o rumo do vento.

kadore descia a ladeira,

com as mãos suando frio,

os pés nos cacos de vidro.

e dentro do poro da pedra

estava escondido o boi araçá.

(Esse texto foi escrito em uma dimensão diferente. Naquele tempo não se podia falar de justiça, de flores, e era proibido fazer canções!!!)