A Galinha dos Ovos de Ouro
Aviso ao dono da granja:
“Nunca mais verá meu brilho!”
Ele quer sempre uma canja,
Mas nunca me dá milho.
Cocorocó!
Conheço de cor... O canto agourento do galo.
Acordes vampirescos,
De quem bebe sangue fresco... No gargalo.
Embriaga-se do suor,
De todo o melhor... Proveniente do alheio.
No meu bico esparadrapo,
Nem de grão em grão meu papo... Fica cheio.
Ele é minha cafetina,
Faço ponto nas esquinas... Em torno do seu umbigo.
Se aproveita igual lombriga,
O ermo vão de minha barriga... Fora feito de abrigo.
Quer sempre tirar vantagem,
Surrupia a paisagem... Que embeleza minha foto.
Quer que eu recite num poema,
As dezenas... Que serão sorteadas na loto.
Garimpa tudo o que doura,
Na espessa sombra entesoura... Meus raios de luz.
Permaneço assim acordado,
Sonhos dormem aprisionados... Em velhos baús.
Meu campo de criação,
Sofre a devastação... De gafanhotos esganados.
Da ave ávida por lucro,
Que engarrafa o meu suco... Concentrado.
Aplausos pra que eu me revigore,
Mas nem pró-labore... Pra servir de consolo.
O que mais ele deseja?
Tirando o tabuleiro e a cereja... “Somente” o bolo!
Mas meu brio não será mais despojos,
Já que nem mesmo o relógio... Trabalha grátis.
“De nada!” por meu tudo?
Nunca mais meus ovos graúdos... 24 quilates.