Namorar

tocar nas mãos e sentir na pele

a seiva que dilata as veias

sentir no rosto o sopro

do arfar de uma respiração

que pulsa ou alivia o intumescer de poros

vislumbrar entre olhares tímidos

o indizível das palavras

traduzir os rubores nos rumores

das sensações que transcendem as cores

vislumbrar o desnudar lento e paciente

das partes que lentamente nuas

revelam-se vulneráveis e inocentes

aos apelos ardentes da paixão

murmurar entre línguas e dentes

o fluir das sensações adormecidas

deslizar entre lábios úmidos

o entrelaçar de gemidos e beijos

nas bocas que saboreiam

o soletrar das sílabas da paixão

mergulhar no éter

e sentir a lua enternecida,

guarnecida de noite a caminhar entre estrelas

perceber-se como se ela própria fosse,

na cumplicidade dos mistérios

que somem no amanhecer dos dias

perceber-se o próprio dia despertar

sob os raios flamejantes do sol

um celebrar inconsumível de êxtase

do comungar dos seres, do sol e lua

indestrutível sintonia que paira no cosmo,

tal qual um eclipse perene de nós