CENA II
quantos dinheiros custou
aquela rosa morta que me depositaste aos pés
quando na verdade o morto da vez era eu?
bem que te vi passar calada pela grade
respirando um ar que não era teu
de luto leve e cara de camafeu
surpresa saber que não sabes distinguir um defunto
que no todo da morte ousas separar o conjunto
como se os ossos soubessem que há outra direção
Diga, vá, quantas moedas jogaste no pires da velha
em troca da rosa murcha já chorada com que me presenteias?
o palco do funeral já se desmancha deitando sombras ao chão
e ainda resistem os lamurientos como aranhas presas às teias
como se eu fosse a mosca de sua cobiça...
como se jamais um dia me tornasse carniça.
diga logo, onde furtaste a rosa pálida a mim oferecida nua
úmida da chuva que outrora caiu e agora já não fecunda
se não pagaste, talvez roubaste dos jasmins e melissas
da casa ao lado onde vive a suposta viúva do homem que um dia saiu pra compar cigarros e não voltou.