Afonso Eduardo

(Um internamento malsucedido)

 

Tomo umas pingas,

falo besteira;

brigo com filhos,

xingo a patroa

e ela me xinga.

 

Na mesa verde,

pra me distrair,

eu gasto as horas

jogando cartas,

matando a sede.

 

Estou demais!

 

Passei da conta,

ninguém me aguenta.

 

Pedem socorro

a homem sagaz:

um moço esperto

que bem ligeiro

quis me trancar

no sanatório

aqui bem perto.

 

Junto com loucos

não quis ficar;

entrei na frente,

saí nos fundos

andando um pouco.

 

E o esperto era ele!

 

Não gostei nada

do atrevimento;

o fogo da ira

ponho ao pavio.

Ainda eu racho,

sem pena dele,

com a bengala

de pau o seu

crânio vazio.

 

De tanto medo,

nesse entrevero

perdeu a fala...

 

Que belo sonso!

 

Se eu fosse bobo,

não me chamava Eduardo;

muito menos Afonso.

 

 

_______

N. do A. – Na ilustração, o antigo prédio do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, mantido pela Federação Espírita do Paraná, em Curitiba, Paraná, no bairro de mesmo nome, palco da internação e fuga do meu tio Afonso.

João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 08/03/2014
Reeditado em 11/11/2022
Código do texto: T4720587
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