Afonso Eduardo
(Um internamento malsucedido)
Tomo umas pingas,
falo besteira;
brigo com filhos,
xingo a patroa
e ela me xinga.
Na mesa verde,
pra me distrair,
eu gasto as horas
jogando cartas,
matando a sede.
Estou demais!
Passei da conta,
ninguém me aguenta.
Pedem socorro
a homem sagaz:
um moço esperto
que bem ligeiro
quis me trancar
no sanatório
aqui bem perto.
Junto com loucos
não quis ficar;
entrei na frente,
saí nos fundos
andando um pouco.
E o esperto era ele!
Não gostei nada
do atrevimento;
o fogo da ira
ponho ao pavio.
Ainda eu racho,
sem pena dele,
com a bengala
de pau o seu
crânio vazio.
De tanto medo,
nesse entrevero
perdeu a fala...
Que belo sonso!
Se eu fosse bobo,
não me chamava Eduardo;
muito menos Afonso.
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N. do A. – Na ilustração, o antigo prédio do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, mantido pela Federação Espírita do Paraná, em Curitiba, Paraná, no bairro de mesmo nome, palco da internação e fuga do meu tio Afonso.