Dias
os rabiscos nesse caderno
são fragmentos de outro tempo
lembra? eu me lembro
a trilha sonora daquele momento
e as coisas que a gente escrevia
o toque da nossa mão fria
que buscava calor, alento
a cumplicidade no sorriso
o encontro de dois rios num mesmo.
palavras que o vento levou, promessas
desejos que se apagaram, lembranças
esquinas borradas de pranto
e passagens já encobertas.
os pedestres pisoteiam espaços,
que os passos das antigas travessas
já não serão nunca mais os mesmos
as mulheres marcharão com pressa
e passarão elas tão belas pelas passarelas.
sob o céu ainda as mesmas estrelas
e a rua em que eu te disse as palavras essas
hoje é somente a rua dos cataventos.
se um dia voltares em pensamentos
saberei que lembras de alguma maneira,
-pois eu ainda guardo a flor de cerejeira-
dos dias aqueles tão nossos
de amores fartos e fortes abraços.
e impregnada no chão de pedra
está entranhada toda minha jura
que os que caminham por cima dela
não sabem que ali descansa
na poeira dos dias, a sepultura
da nossa eterna herança.