ABÓBORA

Suas cartas

nunca iriam chegar

acaso

ela deixasse

de amar

coração que palpita

quando certa

pessoa visita

mesmo em alma

mesmo na calma

guardada de seu quarto

ela foi a um enterro

pensava ver

tudo destruido

num túmulo

gaveta de ármário

que não abre

um nunca mais

que apenas tem flores

pra enfeitar

não representa nada

perfumes que saem

pra dizer saudades

não quer isso

o vasto horizonte

ainda por chegar

posso esperar

apenas se não sei

caminhar

sobre ruas estreitas

mal iluminadas

desfeitas abandonadas

onde uma sombra

se espreita

como guarda das

portas do obscuro

o medo do escuro

cria um muro

que o cego não vê

então porque

ficar inerte

sigo em frente

este presente

que o passado me legou

léguas andarei

até tê-lo como futuro

anéis entre dedos

não fazem magia

esta fantasia

como todas sem corpos

são as flores dos mortos

em dias nublados

fumaça de um fogo

que não queima

nenhum apelo

tão pouco brilha

o quanto sinto que brilha

meu amor que paguei

a moedas tão caras

do meu ser

só posso entregar

ao que busco

foto que anda comigo

que uso

meu muso

estátua que

meu beijo de fada

trará minha

completude

pro que se chama eterno.