À sombra
Eu sou
A contagem
Dos dias,
A testemunha
Do tempo,
O acúmulo
Das experiências:
eu sou velho.
E não posso
Burilar palavras;
Mas dizer o necessário.
Não posso idealizar;
Mas ser realista.
Não tenho tempo
Que já me fez perder
Tanta coisa.
O rosto das mulheres,
Os amigos,
A cidade onde nasci...
A memória, mesmo assim,
Teima em visitar
Meu cérebro confuso
E vive fossilizada
Em fotos e objetos...
Quando ela me vem,
Mesmo fragmentada em lapsos,
Sinto-me viajando para casa;
Estou voltando à pátria
Das minhas sensações;
Estou voltando ao ventre
Primordial.