Casario
A minha rua criança
O homem do pirulito
Naquela tábua suja
Zé das Abelhas
O doce de palito
Os verdureiros
As lavadeiras de ganho
Aquelas camisas brancas
Como asas de garças
O rio quieto
Banhava os meninos sem pai nem mãe
As bodeguinhas cheias de atrativos
A enfermeira que nos amedrontava
A minha rua de bambolês coloridos
De meninas pulando corda
Do homem que vinha de São Cristóvão
Vendendo caranguejo gordo
Daquela senhorinha dos passes espirituais
Não tem rua tão bonita quanto a minha
De pés no chão
De meninada que ignorava a existência
Da Escandinávia, do Japão
O capitalismo está metendo os pés
E também as mãos
Desmanchando histórias
Apagando memórias
E os meninos da minha rua
Estão, alguns doentes,
Outros mortos
E mais alguns ficaram tristes
No exercício de procurar
Por toda parte
Aquela rua
Casario
Obra de arte