O VOO QUE SE FEZ COM DOR
Luciana Carrero
O Condor soltou seu grito,
Clamando por liberdade;
Bateu asas no infinito,
Tendo como mote o fito:
Despertar de uma nação.
Ventos sopraram, bem forte,
Leste, Oeste, Sul e Norte
Tempos de libertação.
Assim nasceu nova história,
Neste brasílico solo,
De um povo livre da escória,
Da condição sem consolo,
Da funesta escravidão.
Mas sem amparo, ex-escravos
O fel engoliram em travos,
Perdidos, e sem noção.
Passaram meses e anos,
De vagabundos tachados,
Carregando desenganos,
Pela esperança levados
“Livres”, na estranha nação.
A pátria longe, além mar,
E um destino a procurar,
Num Brasil sem proteção!
Séculos foram vividos
No isolamento social;
Na república esquecidos
Já não sabiam se mal
Era mesmo a escravidão,
Pois numa injustiça nova,
Nas penas de dura prova,
Penaram cá neste chão.
Mas, de raça mesmo forte,
Atravessaram preceitos,
Da nefasta branca morte,
De uma lei de preconceitos,
Onde até a constituição
Não os tinha como aceitos,
E com rançosos conceitos
Os jogava na exclusão.
Do século novo as portas,
XXI, já marca a história
E o Brasil abre comportas
Que ficarão na memória
Da Justiça, na amplidão,
Onde o povo negro explode
Imensa força que eclode
Brasil, por fim, sua Nação!