de mar e peito

deito as palavras no mar

deito-as na ponta dos dedos

deslizo as letras que se vão

formando medos e desejos

deito nos dedos todos os medos e desejos

deito as palavras no mar do meu peito

esse oceano turbulento

às vezes mar de tormento

sempre escravo do tempo

me diz que agora deve haver

dias sem lamentos

diz que deve haver

contratempos:

um agora são

uma revolução

deito as palavras no mar do meu peito

e me sento tremendo

sentindo o vento aqui dentro

hoje o tempo segue lento

o ritmo segue o sangue e

o sangue segue temendo

o tormento do peito

isso mesmo

até o sangue

anda meio langue

pouco vermelho

e nada mais reflete

se mergulha no espelho

deito as palavras no mar do meu peito

e a dor segue sem freio

angariando os frêmitos

perdidos na onda de anseios

e a dor segue sem freio

abraçando todos os beijos

que deixei no mar do meu tempo

deito as palavras no mar do meu peito

onde tudo se perde, até mesmo o alento

e tudo que penso gostaria de sanidade

gostaria de dizer comedimento

mas só tenho andado de joelhos

vivendo de saudade

e assim tenho me afogado

no mar do meu peito

tenho me afogado

andado arrastado

de joelhos.