Medéia

Senhor meu Deus,

Ainda assim me amas, depois de ontem?

Ela submissa, me pediu perdão, não perdoei

Humildemente, se jogou a meus pés e chorou

A santissima lágrima de mulher

E disse que errou, por estar aqui

E ter a dor e o colo dos mortais

E possuir um verso forte entre as mãos

Um jardim no corpo que é mistério

Enlouquecido, gritei

Tudo que é amor é ódio

Nada é mais amargo que o beijo

Da mulher arrependida!

Expulsei-a! Depois fui chorar no aterro

O desterro das minhas ilusões

Ouví os pássaros e as aguas, sem ouvir

Orfeu havia me roubado a lira

Depois fugí pela noite escura, Édipo

Dilacerei meus pulsos, fui Medéia

Para colorir de sangue a estrada

De nunca mais voltar

Agora a teus pés, desesperado estou,

Sem conseguir morrer!