Incontida
Não há apenas a palavra contida
Camuflada no exílio dos lábios,
Cúmplice da confissão adiada.
Quisera que fossem apenas os gemidos,
Os suspiros despidos em noites famintas.
Não há apenas o tremor, a palpitação,
Carícias descalças nas ruas do desejo
Ou transgressões consentidas na febre do olhar
Enviesando as máscaras da sensatez,
Depondo disfarces e a pretensa razão
Há sempre o não suposto, o inesperado
A recordação que se rende ao renunciado
Clandestinas inquietudes a me guiarem
Pela porta entreaberta do meu peito em vigília
Amparando a solidão da insone espera
Há sempre um rosto, um nome
Letras que não alvorecem na folha vazia
O imponderável a pulsar intenções.
Pudessem as mãos escrever, o que se sonha
No diário em que se guarda o coração!
Não há apenas o toque lembrado
Ou a ternura a germinar saudades.
Sabe-me o silêncio, quando sou turbilhão
E quando te deixo, dos meus olhos escapar
Na dor de uma lágrima sem par...
Fernanda Guimarães
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