O SILÊNCIO
há um silêncio
que atormenta
meus miolos
a invisível presença
que crava seus dentes
e representa dolos
quero escravizá-lo,
vendê-lo no mercado negro da esbórnia,
na feira de marrakesh,
raro e disputado,
destinado a mim por engano,
por vingança ou atropelo
há um silêncio
que dói,
incomoda,
que por trazer consciência
induz ao desespero,
produz calafrios,
vocifera dúvidas,
cochicha um homicídio,
rega um não sempiterno
cala-te, silêncio!
deixa-me ouvir as gotas da chuva,
o assovio de um querubim em voo planado,
as pegadas de um lagarto no areal,
o farfalhar das folhagens,
das asas das borboletas,
dos versos sobre o papel de palha,
a flauta do Fauno,
ruídos de muitos decibéis.
cala-te, silêncio!
quero-me surda de ti,
quero-me mouca de mim!
*imagem: google (edição kml)