Depois de tudo, fica o espelho antigo
refletindo as tardes de lembranças tantas...
Fica o pó nos livros sobre a cômoda,
refletindo as tardes de lembranças tantas...
entre os enredos do passado
e os versos presos à garganta...Ao fundo, os pássaros entoam velhas cantigas,
as mesmas que ouvia dos doces lábios
- tão ternos e sábios -
proferidas entre os brandos alvorecerese os poentes dos cansados dias...
- Adágios de esperanças em véus de afagos -
As imagens ganham vida nos porta-retratos
e se repetem nos lumes das janelas;
esvoaçando as alvas rendas dos sorrisos dela,
que perfumavam os cômodos e debruavam os olhos
... Ainda ouço os passos sobre o assoalho de canela...
e aquela voz que ao vento me acarinha o cerne;
sidéreos nomes que me concernem os ouvidos
e me lançam à pátria mãe de minha aurora singela
Cheiros mornos, suaves e adocicados
desprendem-se dos sobrados de minha memória;
respiro agora o tempo... - em insana serenidade -
que acordam as pesadas gotas e sangram cristaispor entre esses meus olhos de saudade
... Quisera demorar-me nesses momentos...
esquecer-me nesses algures que, à beira dos dedos,
guardam aromas inolvidáveis de telúricas alegrias;
e fingir que esse tanto de silêncio agreste
não é essa angustiante falta da tua singular melodia...
- Depois de tudo, guardo essa ausência gritante,
feito lâmina cortante, na medula da poesia -
feito lâmina cortante, na medula da poesia -
... um ano sem ti - uma vida sem mim
Saudades eternas, minha mãe...
Denise Matos