Duas Obras Cênicas

I

Subindo a Avenida Afonso Pena

sou apenas mais um personagem humano

imerso no quadro cotidiano,

no exílio ao qual o Tempo nos condena.

Como um típico ator godardiano

incorporo-me todo à absurda cena

de ser gente e represento sem pena

este circo nouvellevaguiano.

Sigo o caminho em meio a outros atores,

a avenida se abre em desatinos,

buzinas e ao espetáculo das cores.

A tarde se vai devagar, meninos

gritam em alarido, e nós, impostores,

dublamos almas, roubamos destinos.

II

No “ser, não ser” da nossa existência

representamos o conveniente.

Somos “sombra fútil chamada gente”,

forjando uma pictórica essência.

O parecer é quase uma ciência

e há por aí muito competente

que ilude a si e a toda gente

fingindo sua hipócrita excelência.

A sociedade é uma mascarada,

pra usar um termo schopenhauriano,

em que toda postura é ensaiada.

E no final a máscara do humano

confunde-se com a peça encenada

e torna-se atriz do seu real engano.

Vagner Rossi
Enviado por Vagner Rossi em 28/02/2014
Código do texto: T4709901
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