todas as coisas
O Camarão estava limpo e sua carne firme
Na geladeira, os legumes estavam frescos
Para o tempurá crocante que eu serviria
Junto com os camarões para um jantar de
Logo à noite.
“Não se atrase querido, venha direto para casa”
Disse minha mulher ao telefone.
Mas ao sair do trabalho resolvi ir até
O bar e beber uma vodka.
“Depois desta vodka irei para casa”.
Mas não sei o que há de mutilado em meu espírito
(talvez seja este mundo mergulhado nele)
Que derramei muita vodka sobre o meu corpo,
Em cima da tarde agradável e minha resilente
Tristeza,
Apaguei o mundo, e como uma rosa cortada
Já finda o seu tempo
Atravessei o espaço como quem entra no território
Da morte.
Acordei no outro dia e minha mulher me disse:
“Um homem me enviou uma mensagem
Dizendo que você estava cambaleando de bêbado”
“ele te conhecia?”
“Não, você deu o meu número pedindo para ele
Telefonar-me já que a bateria
Do seu celular havia acabado
E você queria que eu fosse te buscar no metrô”
Imagino aquelas pessoas cansadas após o trabalho
Com algum dinheiro no banco
Para as contas ordinárias,
Ou quem sabe uma viagem,
Crianças nutridas em casa,
Um automóvel quase pago,
Certos em pelo menos em quem
Não votar para presidente,
Palavras fáceis para momentos difíceis decoradas
Juntamente com o receituário médico
E versículos bíblicos
Sentindo pena ou desprezo de mim
Por eu estar cambaleando e eles não.
Não sinto rancor
Nem orgulho,
Mas quando meu corpo estiver dissolvido,
Meu fígado e pâncreas e estômago
Finalmente falidos,
Eu saberei algo mais que todos eles:
Antes da falência dos bêbados
A humanidade já havia falido,
Deus já havia falido
Este planeta falia
O sol falia
E todas as coisas faliram
E falirão de novo
E de novo
E de novo.