todas as coisas

O Camarão estava limpo e sua carne firme

Na geladeira, os legumes estavam frescos

Para o tempurá crocante que eu serviria

Junto com os camarões para um jantar de

Logo à noite.

“Não se atrase querido, venha direto para casa”

Disse minha mulher ao telefone.

Mas ao sair do trabalho resolvi ir até

O bar e beber uma vodka.

“Depois desta vodka irei para casa”.

Mas não sei o que há de mutilado em meu espírito

(talvez seja este mundo mergulhado nele)

Que derramei muita vodka sobre o meu corpo,

Em cima da tarde agradável e minha resilente

Tristeza,

Apaguei o mundo, e como uma rosa cortada

Já finda o seu tempo

Atravessei o espaço como quem entra no território

Da morte.

Acordei no outro dia e minha mulher me disse:

“Um homem me enviou uma mensagem

Dizendo que você estava cambaleando de bêbado”

“ele te conhecia?”

“Não, você deu o meu número pedindo para ele

Telefonar-me já que a bateria

Do seu celular havia acabado

E você queria que eu fosse te buscar no metrô”

Imagino aquelas pessoas cansadas após o trabalho

Com algum dinheiro no banco

Para as contas ordinárias,

Ou quem sabe uma viagem,

Crianças nutridas em casa,

Um automóvel quase pago,

Certos em pelo menos em quem

Não votar para presidente,

Palavras fáceis para momentos difíceis decoradas

Juntamente com o receituário médico

E versículos bíblicos

Sentindo pena ou desprezo de mim

Por eu estar cambaleando e eles não.

Não sinto rancor

Nem orgulho,

Mas quando meu corpo estiver dissolvido,

Meu fígado e pâncreas e estômago

Finalmente falidos,

Eu saberei algo mais que todos eles:

Antes da falência dos bêbados

A humanidade já havia falido,

Deus já havia falido

Este planeta falia

O sol falia

E todas as coisas faliram

E falirão de novo

E de novo

E de novo.

Daniel Barbosa
Enviado por Daniel Barbosa em 26/02/2014
Código do texto: T4707561
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