Um Cadáver

Um cheiro de carniça,

Repugnante e podre,

Entra pela minha narina;

Parece-me vir de algum

Cadáver abandonado,

Que morreu-se solitário,

Por essas escuras ruas.

Procuro desesperado,

Se há algum corpo inerte,

Que Jaz ao meu lado,

E moscas que devoram-lhe os restos.

Mas não vejo nada.

Apenas um cachorro vira-lata

Que me passa indiferente

Procurando alguma comida podre

Em meio à profunda noite.

Noto em mim algo diferente;

Um odor, uma tristeza,

Uma inêrcia no coração,

E o zumbido de moscas inconvenientes.

E vejo-me morto, no chão,

Com as entranhas abertas,

Um corpo que agora beija

Não somente a solidão,

- como beijava em vida -

Mas também beija, de língua,

Os lábios da Morte

Divina.

André Espínola
Enviado por André Espínola em 01/05/2007
Código do texto: T470753
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