Um Cadáver
Um cheiro de carniça,
Repugnante e podre,
Entra pela minha narina;
Parece-me vir de algum
Cadáver abandonado,
Que morreu-se solitário,
Por essas escuras ruas.
Procuro desesperado,
Se há algum corpo inerte,
Que Jaz ao meu lado,
E moscas que devoram-lhe os restos.
Mas não vejo nada.
Apenas um cachorro vira-lata
Que me passa indiferente
Procurando alguma comida podre
Em meio à profunda noite.
Noto em mim algo diferente;
Um odor, uma tristeza,
Uma inêrcia no coração,
E o zumbido de moscas inconvenientes.
E vejo-me morto, no chão,
Com as entranhas abertas,
Um corpo que agora beija
Não somente a solidão,
- como beijava em vida -
Mas também beija, de língua,
Os lábios da Morte
Divina.