Sem Título 42

É-me inevitável!

Diariamente sou impelido

a dialogar lúcido com meus próprios medos,

esses medos têm medo de mim e eu deles

os medos têm aflitivamente medo de todos os medos,

dormem fraquejados na tosse de uns e de outros,

de todos...

Tomam-se, lassam-se, escorraçam-se!..

Quando os medos começam a respirar,

ralham-nos,

inflamam-nos,

dissolvem-nos,

impossibilitam-nos,

calcinam-nos...

Em contrafé falam-me num derradeiro

Adeus aos medos...

Adeus à tristeza que esses medos comportam...

Adeus à solidão que desses medos escorregam...

Adeus à obsessão que esses medos baptizam...

Sob a estúpida impotência não compreendo.

Sinto-me alcatrão calcado,

e na última vénia

murmuram-me a estremunhar

que a minha única imaculada saída

é escrever poesia até enlouquecer!