Poema da Volta
Depois de anos
De hiato a fundo
Volta o poeta cansado
Com o fardo pesado
Das dores de amor
Depois de anos
De pensamentos inescritos
De poemas incompletos
De versos inconcretos
De amores incertos, de dor
Depois de anos
De meses a fio
De dias a mil
Por hora vazio
Tal qual canteiro sem flor
Depois de anos
Por vezes confuso
Por vezes aluso
Por vezes acuso
Por vezes só dor
Volto, volto feliz
Porque voltei
E sinceramente nem sei
Se um dia irei
Partir novamente
Meu mundo é esse
Meu mundo é o verso
Meu mundo é o inverso
Do mundo que é seu
Seu vil e impuro mundo
Meu mundo é o tempo
Parado no vento
E o vento parado no tempo
Assim me despeço
Do seu mundo imundo
Imundo, o seu mundo
Abismo profundo
No qual se afunda
O ser que se abunda
Do seu falso saber
Saiba que eu
Prefiro mesmo o meu
Em que me afundo também
Mas me afundo além
Do que o seu mundo possa crer
Por mais que tente ver
Por mais que tente entender
Por mais que tente ser
Digo que não é pelo ser
É pelo sentir, e não pelo crer
Volta o poeta cansado
Que de tão cansado
Falou mais do que queria
Mas não mais do que devia
E muito menos do que havia
A ser bem dito, ou mal dito.
E assim
O longo, e suposto infinito
Verso do poeta aflito
Se faz agora, por fim
Finito.