NÓS POESIA * Mulher / Nua dos meus segredos (José-Augusto de Carvalho / Lizete Abrahão)

Mulher

José-Augusto de Carvalho

Nas máscaras de ti, inteira te desnudas

Na caixa de Pandora, os medos que inventaste

São os segredos de alma insones que aveludas

Semente a germinar, raiz suporte de haste

O sonho da Mulher, os pães multiplicados

Feitiço do Levante em lendas perturbantes

Entranhas a florir rubis ensanguentados

O manto tutelar de infantas e de infantes

Vigília de almenara e sono vigiado

Perfume dos jardins perenes e suspensos

Abrigo castigado, altar de aflitas preces

Sem ti, como haveria o sonho adivinhado?

Sem ti, como inventar os siderais espaços?

Sem ti, como me dar se em mim tu não te desses?

Nua dos meus segredos

Lizete Abrahão

No corpo trago marcas dos grilhões

Que me prostraram sem ouvir o mundo.

Em brumas, a morrer cada segundo

No sem rumo, perdi as ilusões

Marasmo se fez em inócuo limbo,

Vez ou outra exalava árduo suspiro....

Riscando meu rosto feito um papiro,

O tempo, na face, me foi caindo.

De me saber no tédio e solidão,

A máscara foi dada pelos dias.

Rompendo as horas, em agonias,

Meu sonho fora morto em sono vão,

Como Pandora, guardei meus segredos,

Meu corpo foi meu santuário e cantiga...

Em oferenda por dor tão antiga,

Na ara sagrada, escondi os meus medos

Ergueste o pano que cobria o altar...

Como um guerreiro decepaste o mal.

No fio da espada foi-se a dor feudal

Em ti me dei inteira ao céu e mar...

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 02/09/2005
Reeditado em 29/07/2018
Código do texto: T47025
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