Desejo o que dizem

Desta flor sinto o perfume, e digo para mim mesmo quem ela é, que é a causa do meu olfato que acorda, que borda naturalmente pelos sentidos, acompanhada indiscriminadamente por sensações, e livre para ativar ações, emoções, e dizê-la. E neste momento que a senti, é porque ela é causa em mim, por isso dou-me a que sou, e por isso devo-me a deliberar canções.

Bela como um canto que é, faço do teu cheiro um nome; -Que honre! Pois para mim, não consigo mais tê-la como uma instância material por alguns momentos. A manifestação do fenômeno agora é preciso guardar. É preciso deixar espaço no pensamento para memórias. Mesmo que seja como numa fotografia acinzentada, manchada pela discrepância com o real, da verdade, do memento, é preciso alimentar minha imaginação, e para ser, é preciso dizer algo. É preciso tê-la em todos os meus momentos; -Quero moldá-la, mudá-la, além da perfeição, quero nomeá-la e quero transformá-la.

Não posso me contentar com a matéria apenas, é preciso ter definições; -Tenho vícios, preciso de significados, preciso me defender deles, preciso tê-los.

Uma coisa é, senão o que minha visão diz. Mas não posso me contentar com isso, é insuficiente! Preciso dizer. E como dói dizer, pois quero ser, mas estou preso no dizer, e digo.

Digo o quanto posso calcular, pois amar é necessário, é preciso convencer a vida, ter a forma e a ideia, a precisão do conceito, e a perfeição do dizer. Lembrar que o instante não é perfeito, senão quando dito, entendido e agora manifestado no som, na linguagem, no registro em pedra, perpetuar minha solução, meu pensar, minha razão.

É preciso não se perder, pois obedecer é necessário. É preciso saber para ser, e é preciso dever para não avançar.

Por tudo que se conta, uma vez cego seguimos, já sabendo impedimos, naturalmente vivo e obedientemente agradecemos e na graça por dizer, somos.

Pingado
Enviado por Pingado em 22/02/2014
Reeditado em 22/02/2014
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