[Eu - o sonho de um só: Impromptu]

[Quem é o louco: eu que escrevo,

ou aquele que faz sentido do que eu escrevo?]

Antes de ir, eu sempre olho, eu cuido...

Porém, mal ponho um pé no arranjo geométrico

das amplas pedras da calçada, e logo,

eu sei que vou perder o passo:

do outro lado da Rua do Alheamento

uma simples janela fechada

conta-me histórias improváveis

de amores com que apenas sonhei.

[Confesso:

minha paixão é por todas, todas...

Pudesse, eu viveria uma paixão

intensa com cada uma delas...

Mas, só se eu pudesse!]

E afinal, por que tanto me fascina

pensar nas mãos que criaram

o arranjo geométrico das pedras

da calçada onde eu sei que vou,

por excesso de fixação do olhar,

perder, já perdi, o meu passo?

E quem, quem se importaria

com meu passo perdido, quem?

Quem quer saber da calçada

onde caminho até me perder?!

Afinal, quem se importa,

quem não se importa [comigo]...

Afinal, quem [me] quer...

quem não [me] quer...

E quem é essa "Quem quer seja"

que não me quer mesmo...

não me quer, agora, ou nunca?!

E falo... falo às pedras da calçada

da longa Rua do Esquecimento:

por aqui eu passei sonhando;

aqui, eu sonhei com todas elas!

E que mal há em sonhar com todas

e terminar só, sem nenhuma delas?

____________________________

[Desterro, 15 de fevereiro de 2014]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 20/02/2014
Código do texto: T4699051
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.