[Eu - o sonho de um só: Impromptu]
[Quem é o louco: eu que escrevo,
ou aquele que faz sentido do que eu escrevo?]
Antes de ir, eu sempre olho, eu cuido...
Porém, mal ponho um pé no arranjo geométrico
das amplas pedras da calçada, e logo,
eu sei que vou perder o passo:
do outro lado da Rua do Alheamento
uma simples janela fechada
conta-me histórias improváveis
de amores com que apenas sonhei.
[Confesso:
minha paixão é por todas, todas...
Pudesse, eu viveria uma paixão
intensa com cada uma delas...
Mas, só se eu pudesse!]
E afinal, por que tanto me fascina
pensar nas mãos que criaram
o arranjo geométrico das pedras
da calçada onde eu sei que vou,
por excesso de fixação do olhar,
perder, já perdi, o meu passo?
E quem, quem se importaria
com meu passo perdido, quem?
Quem quer saber da calçada
onde caminho até me perder?!
Afinal, quem se importa,
quem não se importa [comigo]...
Afinal, quem [me] quer...
quem não [me] quer...
E quem é essa "Quem quer seja"
que não me quer mesmo...
não me quer, agora, ou nunca?!
E falo... falo às pedras da calçada
da longa Rua do Esquecimento:
por aqui eu passei sonhando;
aqui, eu sonhei com todas elas!
E que mal há em sonhar com todas
e terminar só, sem nenhuma delas?
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[Desterro, 15 de fevereiro de 2014]