Sobre o desespero de Maria
Deu-se ao amor
Como quem se doa inteira
Em seu único horizonte
De linha inútil.
Simplesmente
Abandonada
Numa terça-feira
De lixo.
Sobre o amor que vazou:
Uns diziam que era fraco
Outros que era vil.
O que se sabe em abril
Sofreu ataque letal
Quando se ocupou de biscate
Enquanto operário fabril.
Seu corpo ela ainda chora
Corpo de heroica malícia
Corpo que ela mesma amou
Com todo cuidado
Entre as flores do jarro,
Nos ornamentos do quarto.
Entre canções de outono
Sobre humilhado parto de cacos
O amor sumiu antes do fim
Nunca se refez como retratos
De essências
Desses espelhos abstratos.
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