Dizem que eu não posso
Pelas musas do monte Hélicon comecemos a entoar;
Até os dez anos, diziam que eu não podia ter razão,
que não podia ter prazeres,
que não podia ser feliz;
diziam que o que achavam sobre os prazeres, diz respeito aqueles advindos dos sentidos, de segunda grandeza, sem ordem deliberativa, de caráter impulsivo, semelhantes a selvagens e animais, sem ação raciocinativa na discriminação da ação.
E o que dizem, e o que diziam; Puros pensamentos, -Vãos e improfícuos eu imagino.
Mas também só imagino hoje, porque antes eu vivia, e sem saber, chamava minha instantaneidade simples de vida, sem esperdiçar meu tempo em sons juntos de sílabas, contemplações celestes e divinas, amores ontológicos e devassos, poéticas sublimes de deixar suspiros na alma, nem tampouco seduções músico-racionais calculadas para a dança.
Era só viver e pronto!
Como uma planta que se balança para respirar, e tira do ar, apenas o necessário para viver.
Dizem que o prazer, para se sentir, é coisa que deve ser pensada antes,
acompanhada de uma atividade boa, uma moral boa, que só esse é o bom prazer, o nobre, o mais sublime, e por isso tudo, ando pensando; O que é mesmo que a razão quer dizer?