Do Navio Ancorado

Eu disse para o coração (acho que ele não ouviu)

que o amor foi um navio e que tomou outra direção...

eu disse, porém em vão (pois não escutou ou, então, fingiu)

que o que ficou foi o rio...que o velho navio, esse não!

Eu disse, com ar de lamento...e hoje sei, inutilmente

que quem navega o presente, não é o navio...é o vento

com ecos de um sentimento que ele, agora, não sente

e que dá a ilusão, de repente, do navio em movimento.

E o coração, sempre calado, feito distante represa

soltou a voz na correnteza...libertou o acorrentado...

livrou o silêncio represado nas águas da incerteza

e disse, com delicadeza (pois tem um amor delicado)

que o navio está ancorado...a âncora é a tristeza

e que eu serei, com certeza, ainda muito navegado.

16-02-2014

Torre Três (R P)
Enviado por Torre Três (R P) em 18/02/2014
Reeditado em 10/12/2015
Código do texto: T4695840
Classificação de conteúdo: seguro