Do Navio Ancorado
Eu disse para o coração (acho que ele não ouviu)
que o amor foi um navio e que tomou outra direção...
eu disse, porém em vão (pois não escutou ou, então, fingiu)
que o que ficou foi o rio...que o velho navio, esse não!
Eu disse, com ar de lamento...e hoje sei, inutilmente
que quem navega o presente, não é o navio...é o vento
com ecos de um sentimento que ele, agora, não sente
e que dá a ilusão, de repente, do navio em movimento.
E o coração, sempre calado, feito distante represa
soltou a voz na correnteza...libertou o acorrentado...
livrou o silêncio represado nas águas da incerteza
e disse, com delicadeza (pois tem um amor delicado)
que o navio está ancorado...a âncora é a tristeza
e que eu serei, com certeza, ainda muito navegado.
16-02-2014