(Des)caminhando
Acordei desalmado
De tanto sentir estranheza de gente
De tanto ouvir miudezas
Presenciar injustiças
Ouvir urros de dor.
Vi gente rastejar
Mendigar
Esmolar
Esfomear
E morrer
(outras tantas desprezar, dezenas enriquecer).
Preferi, então, conversar com um caracol
Que morria de amor em meu pátio
Com a borboleta listrada
Que fazia poesia do barro
Do que com gente.
Escolhi morar no mato
Perto do rebolar dos pássaros
E do grito mudo dos peixes.
Lá me inundei com pouco
Fiquei no raso
Enchi-me do nada, do insujeito, do infortuno
Morri e voltei, desnudo
Suicidei meus desejos ocultos
E me fui caminhar com o vento.
Nunca mais me encontrei!