Poema 0076 - Até que a saudade morra
Antigos habitantes fizeram ruas emparelhadas aos segredos,
os sentimentos fugiram pelos buracos do rosto,
uma fêmea, rainha das rezas e dos pecados,
repartiu meu corpo, que é um, em muitos sem amores,
até que apagou o brilho dos olhos.
Careço a morte da saudade,
para que volte o calor que circunda o corpo,
pertenço à lucidez do nu que me habita,
preciso dos extremos de todas as paixões vividas,
até que sinta a vida batendo novamente no peito.
Quisera eu saber andar sozinho,
pisar em cada pedra, sentir a chuva destemperar o sol,
resfriar o calor dentro da veias, gelar até à alma,
quisera sentimentos novos, mais puros, grandes,
assim que te levaria daqui, até Deus ou a qualquer céu.
Deixarei que meus sentimentos pousem no teu colo,
amanhã, depois de fazer amor,
talvez antes, entre o beijo e o sim que me queira,
cultuaremos os gostos, os cheiros, até que exalem,
criaremos asas, só visíveis aos amantes e vamos...
Voltarei a ser pó antes da minha morte,
carrego o rosário entrelaçado aos dedos maiores,
deixarei escrito uma breve despedida de amor,
para cada boca, para cada corpo, para cada amante,
que a saudade morra e conceda meu derradeiro desejo.
08/12/2004