O QUE VÊS, MINHA MENINA?
O que vês, minha menina?
O que vês para além das dores desse mundo?
A esperança, um raio de sol?
Uma estrela solitária no horizonte?
Um barco fugindo, sumindo,
um cântaro quebrado junto à fonte?
Flores murchas, desertos, páramos ressequidos?
Um tempo despido de crenças na
dignidade do homem, desintegrado,
alquebrado, tão sofrido ?
Vês um tempo sem tempo?
Desalento? Vida corrida?
Bela desse jeito,
vês que ainda campeia pelo mundo
dissimulado preconceito,
de raça, de cor, de credo?
E que os homens ainda se matam
e fazem da violência o seu brinquedo?
Nos teus olhos leio o espanto,
pássaro ferido de susto,
riscando, pelo céu, incerteza e desencanto.
Eu não queria esses teus olhos adultos,
menina tão bela, de renda tão branca,
de trança amarela!
Vejo os teus brincos.
Mas não vejo os teus brinquedos.
Vejo os teus medos e essa agudeza inaudita.
Nos teus cabelos, laço de fita.
Nos teus olhos azuis,
a tristeza infinita
de um sax distante chorando
tua beleza em blues.