Revisão
Reduzi à metade as loucuras que postei neste estranho recanto,
memória íntima dos meus desejos mais queridos e mais odiados.
De vinte páginas ficaram dez, depois da decidida roça
que botou o sobrante ao lixo, de ouro a fouce na mão.
E assim fiquei, mais uma vez despida,
sem nós, sem vinte, sem cartas àquele amado.
Quebrei interações, infinitos, teorias.
Apaguei frustrações e antologias.
Sem informações sobre Galiza, nem anjos,
ficaram somente os diabos simpáticos.
O pouco que restou por compaixão.
Fora à procura dela,
fora as cartas a...
"nada mais doce tenho achado" também fora.
Deixei ao seu rumo as Caraíbas,
não ficou palavra sem coração.
Fora os sonhos perdidos, também. Fora a desolação.
Excluí finalmente, epílogo e quase todos
os poemas escuros e os verdes,
as duplix-idades absurdas, as faíscas e fumaças.
Abandonei comentários e leituras, já não há e-livros nas estantes,
ainda que ficam os últimos e duros versos
e todos os imprescindíveis eróticos para fazer um pouco suportável
essa colossal patranha que foi o tal do amor.
Procura agora esta balsa renovada sem necessidade de espelho
nem de homem idealizado, sentir-se bela e livre, amada,
estar a bem com ela mesma,
e luzir com orgulho as novas vestes que o próprio tear lhe dá.