DA MINHA JANELA
Da minha janela
Eu vejo o mundo lá fora
Que não pára.
São pessoas agitadas
Indo e vindo pelas ruas
De uma cidade turbulenta
Que cresce cada vez mais.
Vejo em seus semblantes
Imagens vívidas de desencanto
Pelas experiências decepcionantes
Vividas ao longo da caminhada
Nesse mundo de desilusões.
Mas, ao mesmo tempo eu vejo
Pessoas alegres e contentes,
Sorrindo, dando gargalhadas
E conversando abraçadas
Contando suas aventuras
Durante o percurso do dia.
Passeiam na praça felizes,
Encontram amigos queridos,
Abraçam-se e dão risadas
E falam da vida alheia.
Da minha janela
Eu vejo na pequena praça
Crianças maltrapilhas
Pedindo esmola aos passantes.
Elas vivem assim, abandonadas
Ao léu da sorte, angustiadas.
Dormem ao relento, desprotegidas
Nas noites frias de intenso inverno
E nas longas noites de verão.
São pequenos seres cujos pais
Não têm por eles o menor apreço
Pois, subjugados pelos vícios
Destroem suas personalidades.
Quantos pequeninos assim vivem
Vegetando nessa sociedade podre
Que simplesmente esquece que existem!
Da minha janela
Eu vejo homens e mulheres
Revolvendo latas de lixo
Na intenção de encontrarem
Alimentos que sobraram
Das mesas de muitos nababos.
Esses homens e mulheres
Ganham salários de fome,
Alimentam-se muito pouco,
Vestem-se de roupas usadas,
Que ganham de seus vizinhos
E de ricos empresários.
Vivem doentes, desnutridos
Pois não podem ingerir
Os remédios receitados
Pelo médico do bairro
Pois o dinheiro que recebem
É tão pouco, quase nada.
Da minha janela eu contemplo
Homens e mulheres bem vestidos.
Caminham com elegância,
Usam palavras bonitas,
Formam frases escorreitas
Num português primoroso.
São pessoas privilegiadas
Favorecidas pelos bens materiais
Que lhes concedem uma vida boa.
O dinheiro acumulado
Amealhado através dos anos,
Ou conseguido por alguma herança,
Ou mesmo ganho por meios desonestos,
Oferece-lhes uma existência luxuosa.
Da minha janela eu vejo
Dois pivetes cochichando
Arquitetando planos
Para surrupiar a bolsa
De uma desavisada senhora.
Ela vem toda contente
Com o dinheiro que sacou
Da casa bancaria da esquina.
Não sabe ela que os meninos
Estão planejando roubá-la
Logo que entre no acesso
Para uma rua abandonada.
Logo que isso acontece
Eles aparecem do nada
Arrebatando-lhe da mão
A bolsa cheia da grana.
Ela grita desesperada
Com suas mãos abanando:
“Por favor peguem os ladrões
Deixaram-me sem um tostão”.
Da minha janela eu vejo
Como o mundo é tenebroso,
É sujo, impiedoso.
Da minha janela, à tarde
Eu posso ver com tristeza
Esta infausta realidade.
Um mundo que vai sucumbindo
De uma maneira paulatina.
Na praça, na rua, na esquina
Tudo isso vive acontecendo
Mostrando que tais ocorrências
Repetem-se todos os dias
Nas cidades e nos bairros
Desse nosso imenso país!