UMA NOTA DE CEM

Ela traz em si o suor humano

E o cheiro desagradável de mãos suadas

Do rude trabalhador cotidiano,

Mas também o aroma suave das pessoas

Que trabalham em confortáveis escritórios.

Uma nota de cem inconscientemente

Provoca ganância e desejos incontidos

Ao homem neste mundo inconsequente.

Faz o ser humano urdir planos escabrosos

Para ter a posse de pelo menos cem delas!

Ela paga o aborto letal de uma criança

Que está há alguns meses no útero materno.

É ela que paga a arma de um crime

Que será algures perpetrado.

Mas ela concede também a felicidade

A tantos corações de homens e mulheres.

Com seu poder de compra oferece rosas

À noiva bela e radiosa

Que vai se unir com um jovem nobre.

É ela que coloca o pão na mesa do pobre

E paga a consulta do médico que salva

Alguma pessoa de uma enfermidade fatal.

Se ela falasse

Haveria de dizer tudo o que se oculta

No interior de suas dobras;

Haveria de se pronunciar

Contra os abusos frenéticos

Daqueles que a possuem.

Se ela falasse

Haveria de exigir

Que não se digladiassem tanto

Para tê-la no bolso

Pelo menos por algum tempo.

Não aceitaria ser trocada

Por garrafas de cerveja

E muitos litros de cachaça

Que embebedam homens viciados.

Há muito tempo não a sinto

Entre meus dedos.

Há muito tempo não vejo

A sua cor azulada.

Quantos sonhos teria para realizar

Caso ela ficasse por mais algum tempo

Dentro do meu bolso, bem fundo!

Porém, tudo isso é pura utopia

Pois só consigo tê-la por alguns minutos.

David Mattos
Enviado por David Mattos em 14/02/2014
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