VELA

VELA

Frades beneditinos cantam,

Incensam a igreja gótica escura.

No candomblé o canto é ioruba,

As ervas incensam a roça,

No Terreiro a defumação,

Em breve os guias desceram.

Eu me encontro numa cova,

Claustrofóbica e solitária.

Perco a esperança da limpeza,

De reviver o que esta agonizante,

Dei meu coração a Deus,

Acho que ele nunca me ouviu,

Cristo imóvel na cruz,

Nunca aplacou a mão de meu pai,

Nunca amenizou a humilhação.

Os orixás trazem axé,

Por que este não entra em mim?

Por que minha alma anda negra?

Os guias trazem a palavra de consolo,

Trazem a paz por que não a mim?

Apenas esqueci o que é a fé,

Nunca pedi nada material,

Nunca pedi nada de mal,

Também nunca fui ouvido...

Hoje sou vela tremulante,

Pronto para ser apagado num sopro,

Sopro besta que nada perderá.

De quem amou demais

E ai?

Quem ajudou o próximo demais

E daí?

O tempo da ingenuidade esta longe,

Muito longe,

Nem lembro mais como ele era,

Queria apenas minha morte,

Queria meus órgãos em outros,

Ser vida em outros,

Talvez assim de ser feliz...

Agora sou apenas um vulto negro,

Um maldito corvo numa arvore morta,

Tenho milhares de historias,

Todas malditas,

Talvez destruísse famílias,

Já não tenho mais força,

Já não quero mais ter esperança

Perdi por amar demais,

Por ter sido moldado da retidão.

Resta apenas uma vela a tremular

Uma vontade louca de esquecer,

De tudo abandonar

Quem sabe até de voar.

André Zanarella 10-02-2014

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 14/02/2014
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