EU DE MIM
Um não sei quê
de mim invade feito intruso
É uma parte de mim, eu sei
Não ignoro que exista em mim
mas só aparece quando não quero
Não domino suas vontades
Não conheço suas intenções
só sinto quando já está
E sem ter como expulsá-lo
aceito como um bom anfitrião
Não nos enfrentamos
convivemos numa busca
incessante de reconhecimento
às vezes parece que estamos de acordo
Somos dependentes
eu não vivo sem ele
e sei que de sua parte se dá igual
Somos nossos opostos e complementos
Não somos espelhos
apenas contracapas
de uma mesma vida que avança
acertando e errando quase sempre
Nos confidenciamos e não encerramos
nenhum diálogo que travamos
Sabemos que cada qual temos nossos tempos
nossos medos, nenhuma certeza
e muitas dúvidas
Não vivemos um sem o outro
porque sabemos
o fim de um será também do outro
Dizem que nosso outro
nos escraviza
Não sei se é assim
Posto que se meu outro me escraviza
Por justiça
devo reconhecer que eu escravizo meu outro
O que não quer dizer muita coisa
Eu e meu outro
só temos consenso numa coisa
Somos mestre e aluno
o que nos torna iguais