Última confraria

A chuva chorou na fachada

Borrou os olhos da casa

Olhos tristes, saudosos

A calçada era a boca murcha

Derramada

Pisada

Sem os alegres gritos

Da criançada

No hall de entrada

Um antúrio sem cálice

Amarelava

O comigo-ninguém-pode

Não mais podendo

Fracassava

Um velho sofá sem brilho se encostava

Com a perna quebrada

Na parede da sala

Um véu de aranhas

A lâmpada turvava

As goteiras também choravam

Na cama de casal as roupas sem caimento

Perderam dos corpos a energia

Um rosto na penteadeira

Não mais sorria

Era só a lâmina do espelho enevoada

Vazia

No corredor

Sequer uma ilusão corria

Na direção da sala

Onde uma mesa

Dos jantares se esquecia

Sobre a toalha de linho

As marcas restaram

Da última confraria

Por debaixo das cadeiras

De cujos estofados

Restos de molambos aveludados

Nem se importavam do passado

Quando tudo aquilo reluzia