Sem Título 7

Devorei pulsos em chamas.

Amplamente o rosto envolto por coágulos de sangue luzidio

a trespassarem as veias estanques como a enrolar

as cores existentes

por dentro.

Certo é percorrerem

todo esse ar

que engole o corpo celeste mergulhado

na textura do nosso corpo temporal.

Fico com as mãos

cheias de ossos trancados.

Levanto

a cauda de um espelho

e alongo as vísceras astronómicas,

com bastante força química,

a dilatar numa circulação sanguínea

até a leveza

da garganta se alagar

na sombra líquida

das artérias

contra o alto esquecimento das coisas profundas,

contra os tendões severos a racharem a boca desvairada.

Relembro quando adormecia

sobre todas as

coisas vivas ou mortas

por fora.

Submetia os lábios

a girarem a voz louca

ao lume pedestre

e ardia pelo estremecimento terrível

dos nervos cabeça adentro,

donde múltiplas

estrelas demoníacas

a baterem-se em mim longamente

param, a pouco e pouco, a potência que nunca me sorriu

e vago ou inocente deixo de caber

nos sítios superficiais

à minha volta.

Releio todas as cumplicidades translúcidas

a moverem toda a pele num feixe de pérolas

das salgadas mãos,

aos braços a escorrerem aquele alimento

metidos nas águas sentadas

no túmulo dessas estrelas tubulares.

A destreza deste poema extingue-se quando as unhas

tocarem na carne abaixo, rompendo,

com sinceridade,

a desvastação simbólica

da escrita furibunda

ou silêncio furibundo

a pesar com delicada melancolia.

Ouço o rasgão

do corpo a sangrar

com os tecidos dos versos

a palpitarem porque se nomeiam

e se escrevem dentro

da pulsação ininteligível.

Por cima,

devoro os pulsos em chamas.