OUTRO EU

Da paixão tirana a que tudo permiti

Tão intensa, cruel, linda e insana,

Santa e profana assim que descobri:

A menina mulher de alma cigana.

Pele morena dos beijos do astro-rei,

Cor de canela, aroma de avelã,

Exala feitiços que nem mesmo eu sei

Se vem de ontem, hoje ou amanhã...

No encanto secreto do olhar cor de mel

Promessas veladas de venturas sem par

Desejos ocultos entre nuvens e céus

Néctar da fonte que vem a saciar...

Chispas do fogo que corre nas veias

Seda e cetim, fortuna e perigo, destino

Contido nas tramas tecidas nas teias

Dos sonhos sonhados por esse caminho.

Entrego-me sem medo a esse desejar

Sem freio, sem pejo, sem nenhum lamento,

Mergulho profundo ao fundo desse mar

Buscando viver todo esse sentimento.

Ninguém morre de amor, mas por falta de amar

Morre por querer e tem medo de poder ter

Morre por alcançar e saber que é ilusão acreditar

Morre quem sonha que ama, quem se nega viver.

Quero aprender o amor da morena brejeira

Sentir o coração num só compasso pulsar

Menina, mulher, santa, louca, guerreira

Ensina-me a viver, me ensina a amar!