Beijo técnico

que boca te beijará

depois de morta

um lábio frio

endurecido da saliva de velas

que olhos docemente se fecharão

se o que há são

dois furos

escuros

feias covas

a língua nem mais existe

penca de dentes persiste

rindo

rindo

como se de si mesma ironizasse

que beijo de horror

sem primavera

cheirando a ossos e carniça

que braços de troça

deitados

desmazelados

ao longo do feio caixote

perto das pernas

que não mais bailam

que quadro surrealista

beijo gelado

técnico beijo da morte

a grande artista