Sem Título 6

Cantam as túlipas.

E busco um cristalino mar

dum azul intensamente sensível.

Agora há-de sobressaltar-se gemendo

na sua farpada dobra

que me torce as unhas até esmagar

a água em volta do corpo,

por fora e dentro arbitrário,

ao entrar e sair salva,

como a luz florescente

duma janela longínqua debaixo

deste lento mar penetrante.

E faz idênticas espumas polirem meu suspiro

enquanto suavemente me afundo,

sem ser-me ninguém,

num mar de túlipas lavrado que se volta

para as palmas de minhas mãos esplêndidas

e me esvai toda a ferida

e peso rubros.

Bato embaciando-me

contra o sangue espesso das pedras

a baterem no espaço vazio

das pedras batidas

pela eternidade viva.

Batem-se as túlipas

no estremecimento das pétalas

contra o calor

sob o vento elástico.

Concentrassem

as gotas das coisas,

das terras despidas, de órbitas em órbitas,

mover-se-nos-iam

para a desastrosa profundidade volumosa

a inundar o que verdadeiramente

nenhuma pessoa possui.

Amamos o corte da neblina

encostando o vidro à cara

num clarão louco.

Sentimo-lo silencioso

para ilustrar a destruição

enquanto deixamos passar o horizonte

lá longe a planar.

As entranhas mirradas

a migrarem na concavidade nua

são hoje as sorridentes túlipas

a embalarem-me o fresquíssimo alvoroço,

donde rítmico,

regressei de dedos dados

ao frescor como desponto.

Quem visse

aquele pendurado cometa mole

a incendiar-se em jacto escorregadio

na copa das túlipas,

seria uma qualquer rota

pousada

no seu caule rodopiante

a colar-se à pele.

Tocas-lhe

e queimas-te intensamente

como queimaram um dia as túlipas

no momento em que se desprenderam.

Enumero o lume por baixo

e fecho-o pequeno.

Adormeço pela geada acima

escrevendo

o mar às túlipas surpresas.

Canta todo o alegre mar cristalino.

Cantam as cores que vêm do fundo limpo

de todas essas túlipas.

Cantam túlipas em mim.