Sem Título 5

Sei como te fazes

procurar pelo ar atmosférico

numa atribulação

formando delicadas

palavras clandestinas.

Basta fazeres-te naqueles dias

sem regaço à chuva

para simpaticamente assumir

a melancolia desfeita

como a tocar as alturas

sobre tremendas paisagens

a incidirem gentis, calmas, isoladas

e algumas letras

sem alívio sabotagem.

Ou pouco ninguém

diabolicamente se cantará

no instante da matéria a rodear

o peso bárbaro das mãos em espasmos.

Pedem pois vidas maravilhosas,

fazendo renascer o sopro casto

virado para dentro do pulso cantante

e bailas perante os teus dedos espantados

despenhando-os na pureza da carne a furar

a esplêndida noite dita

durante a curva do sangue intenso,

como se procurasse

a estabilidade daquilo que encontrei

porque tu, numa voz, o perdeste.

Senão,

encontras a luz esmigalhada

contra a pele

a estrangulá-la na fímbria

à cabeça crepuscular adentro.

Virarias um rolo de papel sôfrego

que não se percebe

enquanto atravessa naquela comoção

da próxima curva abstracta, céptica, iminente,

ensinando à parte,

quanta estrada chumbo

cheira os ganchos

quando roçam a ventania curiosa

entre corpos fortes.

Nem mesmo com a parada

de desejadas chaves frágeis,

em turbilhão,

por se fecharem,

inventas toda essa estrada de vitalidade

a manquejar pormenores sábios

mas realmente o farás

como outras palavras esgravatariam

o céu inteiro lá pelos lados empurrando

certas maravilhas que gráceis brilham.

Deitas-te entre joelhos

na dança de meus lábios deslizantes.

Como num edifício de bruma redonda,

ardes toda a boca pousada

onde o beijo me procura

e te sabe.