Deuses do vento e outros delírios

Ele chegou ao pé da montanha, olhou para cima e viu o céu.

Parou, olhou, olhou e olhou.

Seus olhos bêbados de admiração se fixaram naquele ponto

Os músculos retesaram-se, os pelos eriçaram-se

Os pés tremeram, prontos para galgar o monte e alcançar o céu

Uma descarga cerebral forneceu-lhe adrenalina,

Em um momento, soube que podia…

Mas, súbito, estacou.

Seus joelhos dobraram-se,

Novamente contemplou o alto do monte

Inatingível agora. Sentiu-me mínimo. Um grão no universo

Olhou, olhou e olhou. Ardentes, seus olhos enxergaram o céu

Pasmo, viu Deus pairando sobre a montanha.

Apequenou-se mais. Os olhos se voltaram para o chão.

Os músculos fraquejaram, uma sensação de incapacidade domou-o

A certeza de que, sozinho não podia, desesperou-o

Rezou, rezou e rezou. Transferiu a Deus seus anseios

Deu ao Altíssimo a responsabilidade pelos seus sucessos

A culpa pelos seus fracassos. Acomodou-se…

Não deixou de querer o céu

Apenas passou a esperar que o céu viesse até ele.

Os Deuses não podem ser desculpa pelos seus fracassos

Nem pelos seus sonhos travestidos em pesadelos, pela sua incapacidade de merecer,

Sem deixar de querer.

O seu céu, seja lá o que ele for, está ao seu alcance

…Nesse mundo.

Estenda a mão, faça algo

Não reze, não peça. Não transfira responsabilidades.

Aja!

Creia, se isso te faz bem. Mas conquiste o direito de não ser marionete de suas crenças, sejam elas delírios do vento, miragens no espelho, desenhos em nuvens, astros celestiais ou divindades humanizadas preocupadas com o próprio umbigo.

Somos o que conquistamos e conquistamos o que fazemos por merecer.