POETIZANDO O PESADELO
Encontro-me a roer as unhas
num momento impar
de essência abstrata...
Sinto-me como quem cai do avião
feito em mil fragmentos magnetizados...
Tento recompor cada parte do meu ser.
Invento uma nova poesia
arquitetada com os segredos d’alma,
como se poesia fosse feita de concreto.
Sinto-me como uma pomba aflita
que no estampido da bomba
a pomba explode...
Transformo-me em folha vegetal
no verde escuro e secreto
da árvore esquecida na praça.
Nesse momento de extrema inquietação
o sol é passageiro de uma nuvem clandestina...
Inaugura-se na praça a sombra passageira.
Vejo um gato magro de dentes arreganhados
atrapalhando os transeuntes...
Finda à tarde, morre o gato.
Uma velha caduca
arrastando os chinelos,
varre o lixo dos séculos...
Aperto o controle remoto do tempo
como quem muda de canal na televisão...
Já é tarde, o Planeta Terra está fora do ar