__ Neves Douradas __

Várias condecorações nas paredes,

Tão formosas... Possuídas a cobres...

Não sobrou um só canto!

Certificando um adornado capelo,

Na indecorosa armadilha de gelo —

Profundo desencanto.

A tormenta dos longos precipícios,

Nos Campos de Neves dos hospícios,

Tombaram grandes vermes!

As serpentes que habitavam os mausoléus,

Foram traídas, e fizeram mor escarcéus —

Com arrojados pêsames.

Nem mesmo as águas da chuva a derramar,

Nem mesmo as Neves a derreter no mar —

Calarão o meu cantar.

Douradas são as aves de rapina...

Que só crescem nas ervas da campina,

Nas Serras p’ra se assentar.

Barafustar as desgrenhadas trevas...

Nos labirintos caminhos das ervas —

Se perderão nos cardos!...

Turbados ao redor, co’a indiferença...

Noites nebulosas — darão sentença —

Ao descaso dos Fados.

Ó pobres de espírito...,

Que degustam cabritos;

Inda levam os detritos,

P’ra lugares ‘squisitos.

De dia, é bode assado...

De noite, encapuzado;

Quando amaldiçoados...

Tornam-se mal-amados.

D’outrora vem o vento...

Com descontentamento;

Adagio em andamentos...

Nos tais talentos lentos.

Quem suporta a divina decadência...

Na surdina e mal tocada cadência —

Aos trancos e barrancos?...

Os eméritos penam por não saber,

A diferença que há entre o escrever,

E ler compassos brancos.

Os pompiers ficarão furiosos... —

Por não compreender, como os virtuosos

Conseguem essa proeza.

A tormenta que envolve o esnobismo...

Deprimentes lançam-se nos abismos —

Revela u’a mor tristeza!...

Avante!... Combatentes de rumores!...

Na batuta que enobrece os amores —

D’onde vem a inspiração.

Vossa glória é viver nos reles antros,

Na celeuma arrogante dos "maestros" —

P’ra reger aberração.

Poetas!... Luminosa é a vossa arte!...

Que cantam as melodias — dest'arte!...

— Cantos da natureza!

Das fugas profundas nas variações...

Harmonizando o enlevo nos corações —

D’onde inspira a beleza!

Pacco

***

"Sonha, poeta, sonha! Aqui sentado

No tosco assento da janela antiga,

Apóias sobre a mão a face pálida,

Sorrindo — amores à cantiga."

(Álvares de Azevedo)

"O Poeta trabalha!... A fronte pálida

Guarda talvez fatídica tristeza...

Que importa? A inspiração lhe acende o verso

Tendo por musa — o amor e a natureza!"

(Castro Alves)

Pacco
Enviado por Pacco em 08/02/2014
Reeditado em 06/07/2024
Código do texto: T4682498
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