AS PERNAS DO TEMPO
Nesta hora de espera,
O tempo é lento.
Vejo perderem-se os minutos
Nas longas pernas
Da boneca de pano.
Bem no fundo do espelho
Estão as marcas que invento
do passado, criadas ou vividas,
Depósitos de néctar dos frutos
Daquele brinquedo insano.
Daquilo que seria mel,
A boca recolhe cristais,
Da mistura de sal e fel
Apara o gosto do nunca mais.
As pernas do tempo são fatais,
perdem brinquedos, distorcem
imagens sem avisos e preparos.
Secam o néctar da teimosa abelha
amargam o doce, não admitem reparos.