FAZEDORA
A melhor parte de mim
são as tristezas
que ainda não escrevi,
por medos, incertezas e inseguranças.
Não sei se as escreverei.
Não sei se vale a pena roteirizar
essa minha parte.
Gosto dela assim
porque ela
me é a parte desconhecida,
o lado escuro de minha alma,
jardim intocado
onde nascerão flores
e ervas daninhas
sob um sol que há de iluminar,
ou quem sabe,
de queimar. Só a mim. Só.
É o segredo meu essa minha parte,
que preciso descobrir
nas minhas horas de solidão,
nos meus lugares de abandono,
no sítio de meu isolamento
e que somente a dor da humilhação,
essa fazedora de sentimentos,
vai me fazer encontrá-la
no meio de um amor perdido,
no cume agudo de uma despedida.
E sei que quando
estiver frente a frente
com essa parte minha,
revelarei,
não a foto indecifrável
de meus questionamentos,
mas a luz quente
que vai inculcar
em minha alma
o roteiro escrito por mim
da película em preto e branco
dos meus tempos
de cinema mudo.
A produção será minha,
a direção será do acaso.
A plateia serei apenas eu.