Face molhada
Ele levava no bolso algumas moedas
E todas elas com a face molhada
Uma cicatriz pelo corpo muito proveniente
De alguém que tivesse levado uma queda.
Úmidas todas estavam
Tanto a maior quanto a menor
Fruto provável do seu salário
E ambas cheiravam suor.
Ele não demonstrava ser culto
Falava apenas sua linguagem popular
Jeito simples de matuto
Jamais se poderia suspeitar.
Ele não era corrupto
Nem dum bando de adversário,
Andava a pé naquele reduto
Com um tarja negro no braço
Em protesto ao seu salário.
Perdeu o estudo quando criança
Passou do tempo ele nada fez
Seu saber é pouco para liderança
Ganhando se quer um salário por mês.
Por coincidência tem um nome bonito
Presente valioso que seu pai te deu
Mas foi batizado aos gritos
Na capela da benção
O pequeno robusto
Que há pouco tempo cresceu.
Cresceu também a esperança de ser rei
Mas logo imaginava
Eu nem estudei.
Morava num ranchinho
De palha e barroco
Aquele simples caboclo
De vida sofrida.
Que todos os dias trilha seu caminho
E sua coragem fiel segue inseparável
Ele tem Deus no peito
Nunca esteve sozinho
Às vezes se fere nos espinhos
Mas não fica vulnerável.
Francisco Assis silva é poeta e militar
Email: assislike1@hotmail.com