Face molhada

Ele levava no bolso algumas moedas

E todas elas com a face molhada

Uma cicatriz pelo corpo muito proveniente

De alguém que tivesse levado uma queda.

Úmidas todas estavam

Tanto a maior quanto a menor

Fruto provável do seu salário

E ambas cheiravam suor.

Ele não demonstrava ser culto

Falava apenas sua linguagem popular

Jeito simples de matuto

Jamais se poderia suspeitar.

Ele não era corrupto

Nem dum bando de adversário,

Andava a pé naquele reduto

Com um tarja negro no braço

Em protesto ao seu salário.

Perdeu o estudo quando criança

Passou do tempo ele nada fez

Seu saber é pouco para liderança

Ganhando se quer um salário por mês.

Por coincidência tem um nome bonito

Presente valioso que seu pai te deu

Mas foi batizado aos gritos

Na capela da benção

O pequeno robusto

Que há pouco tempo cresceu.

Cresceu também a esperança de ser rei

Mas logo imaginava

Eu nem estudei.

Morava num ranchinho

De palha e barroco

Aquele simples caboclo

De vida sofrida.

Que todos os dias trilha seu caminho

E sua coragem fiel segue inseparável

Ele tem Deus no peito

Nunca esteve sozinho

Às vezes se fere nos espinhos

Mas não fica vulnerável.

Francisco Assis silva é poeta e militar

Email: assislike1@hotmail.com

maninhu
Enviado por maninhu em 04/02/2014
Código do texto: T4678146
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.